Por Daniel Flynn
DACAR (Reuters) - O número de imigrantes que morrem de fome e sede no deserto do Saara pode ser igual ao daqueles que estão se afogando no mar Mediterrâneo durante o aumento verificado neste ano no tráfico humano da Líbia à Europa, afirmou a Organização Internacional para as Migrações (OIM) nesta sexta-feira.
O número de pessoas que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa pode mais do que dobrar em 2015, alcançando os 100 mil, declarou o escritório da OIM no Níger. Os imigrantes muitas vezes sofrem abusos dos aliciadores, que os deixam entregues à morte no deserto se ficarem sem dinheiro.
Mais de 170 mil imigrantes cruzaram o Mediterrâneo rumo à Itália no ano passado, e mais de três mil se afogaram. Como a quantidade de pessoas que arriscam a travessia está aumentando neste ano, a OIM estima que o saldo de mortos será muitas vezes maior.
O tema causou alarme em especial na Europa no mês passado, quando se acredita que mais de 800 pessoas se afogaram no naufrágio de um único barco pesqueiro, o pior desastre do tipo já registrado. A maioria das vítimas estava trancada nos compartimentos inferiores.
As gangues de tráfico humano têm se beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Primeiro os imigrantes são levados para a Líbia através da África subsaariana e do Oriente Médio.
Agadez, cidade desértica do Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África rumo ao norte africano e dali para a Europa.
"A Líbia é uma porta aberta", disse o chefe da missão da OIM no Níger, Giuseppe Loprete. "Em 2015, estimamos que 100 mil imigrantes irão transitar pelo Níger, o dobro da cifra do ano passado."
Loprete afirmou que não há muito que o Níger possa fazer para conter o fluxo de imigrantes, já que muitos vêm de países da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), como Nigéria, Mali, Gâmbia e Senegal, que permite o livre trânsito entre seus 15 países membros.
De acordo com as estimativas mais recentes da OIM, 38 mil imigrantes cruzaram para a Itália entre janeiro e meados de maio, e os maiores contingentes partiram de Eritreia, Somália e Nigéria, seguidos por Gâmbia, Síria, Senegal e Mali. O auge da temporada do verão local, que concentra o maior número de travessias, mal começou.
A Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional estima que o tráfico de imigrantes na Líbia pode movimentar mais de 300 milhões de dólares por ano.
(Reportagem adicional de Abdel-Kader Boubacar Mazou, em Niamey)